Ponto Final
Sou o adjetivo de todas as
metáforas
Sou o advérbio de todas as
parábolas
Sou o mistério de todas as
lendas
Sou o demérito de todas as
comendas
Sou o felino de remotas
savanas
Sou o beduíno de ermas
viagens
Sou o Saara de trêmulas
miragens
E o oásis de sonâmbulas
caravanas
Sou o sonífero das luas de
insônia
Sou o carteiro das cartas
anônimas
Sou o jardineiro das
florestas atônitas
E o campeiro das estrelas
recônditas
Sou o gatilho das paixões
belicosas
Sou o estribilho das canções
amorosas
Sou o joalheiro das emoções
preciosas
Sou o celeiro das tensões
vertiginosas
Sou o antídoto das serpentes
rancorosas
Sou o terreiro dos batuques
compulsivos
Sou o picadeiro dos palhaços
depressivos
Sou o perfume das prostitutas
malcheirosas
Sou o cadáver das discussões
cavernosas
Sou o cárcere dos corações
expansivos
Sou o truque dos mágicos
televisivos
E o estrume das traições
indecorosas
Sou o cardápio dos júbilos da
escória
Sou a medalha dos homens sem
glória
Sou o capítulo dos anônimos
da história
E o epitáfio dos túmulos sem
memória
Sou a amnésia das promessas
políticas
Sou a cefaléia das
esperanças raquíticas
Sou a miséria dos
sonegadores de plantão
Sou a diarréia dos
infanticidas da nação
Sou a salmonela na salada
beneficente
Sou a esmola das vielas
pobres da mente
Sou o encosto dos falsos
pais-de-santo
A face de Cristo na
serigrafia do manto
Sou o escalpo do índio
pregado na cruz
A hóstia do moribundo na fila do SUS
Sou o demo no púlpito do
pastores ateus
A fogueira dos pedófilos
padres de Deus
Sou o oposto de todos os
contragostos
Sou o agosto de todos os
desgostos
Sou a autópsia viva do
diagnóstico fatal
Sou a audácia do poeta e
ponto final
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