8 de jan. de 2012


Cacos & Insetos N.2


(Poema Inacabado) 


De tanto sorriso trinquei dentes
De tanto feitiço evoquei duendes
De tanta gana descobri planetas
De tanta fome pesquei cometas

De tanto carvão trafiquei oxigênio
De tanto alcorão trafeguei milênio
De tanta insolação reguei desertos
De tanta perversão abonei incestos

De tanto colírio ceguei eclipses
De tanto delírio escalei arco-íris
De tanta sede sequei vertentes
De tanta raiva ejaculei serpentes

De tanta surdez perdi sono
De tanta mudez ouvi Bono
De tanto rush traguei carbono
De tanto Bush destratei Kioto

De tanto cantar cativei boto
De tanto caviar enlatei arroto
De tanto pavão espetei estetas
De tanto fardão enfartei poetas

De tanto ódio amanheci vermelho
De tanto pódio enrubesci espelhos
De tanta ciência mistifiquei Darwin
De tanta essência glorifiquei Martin
  
De tanta prática desdenhei palpites
De tanta lágrima esculpi estalactites
De tanta demência crucifiquei Mefisto
De tanta ausência exorcizei Cristo

De tanta viração aportei sereias
De tanto arpão domestiquei baleias
De tanta sanha perpetuei martírios
De tanta canha poetizei suicídios

De tanto ensejo desvendei cavernas
De tanto desejo polinizei primaveras
De tanta lástima eclodi ciclones
De tanta plástica mamei silicone

De tanta tara castrei pedófilos
De tanta marra tracei hieróglifos
De tanto furor entornei calmantes
De tanto ardor entronizei amantes

De tanto louvor dissequei corações
De tanto pavor dissimilei camaleões
De tanta trégua dispersei passeatas
De tanta mágoa derramei cascatas

De tanto mártir acolhi espinhos
De tanto aparte ouvi mesquinhos
De tanta verve silenciei academias
De tanta febre disseminei epidemias

De tanta tensão queimei urutus
De tanta carniça reelegi urubus
De tanta benção converti ateu
De tanta injustiça esqueci Deus

De tanto espião plantei arrudas
De tanta traição santifiquei Judas
De tanto clamor acendi centellas
De tanto amor queimei estrelas

De tanto perdão rasguei sonetos
De tanta desilusão bebi cianureto
De tanta tesão acendi fogueira
De tanta paixão derreti geleira

De tanta carta percebi paciência
De tanta mata verdejei clemência
De tanta areia plantei bananeira
De tanta maré ascendi lua-cheia

Dos fuzis semeei jardins
Dos cantis agüei jasmins
Dos círios redobrei sinos
Dos lírios compus hinos

Das gralhas sondei alardes
Das tralhas montei verdades
Das medalhas pari deméritos
Das metralhas venci eméritos

Dos ávidos repus enganos
Dos palácios depus tirano
Dos estrelatos tratei edemas
Dos literatos rompi algemas

Dos gatos afastei piscinas
Dos sapatos tirei esquinas
Dos gargalos sorvi poemas
Dos cavalos roubei Helenas

Das migalhas catei esteio
Das mortalhas cavei custeio
Dos trilhos colhi caminhos
Dos filhos acolhi carinhos

Das hienas perdi gargalhos
Das lesmas roubei atalhos
Dos livros ergui muralhas
Das unhas forjei navalhas

Dos autores soltei cravos
Dos tutores livrei escravos
Dos rubores pintei auroras
Dos louvores alcei Senhora

Dos rancores plantei dores
Dos amores curei tumores
Dos traços inventei insetos
Dos cacos renasci completo.


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